Empregabilidade trans: primeira turma do Projeto Cozinha & Voz em Goiás se forma

Durante sete semanas, alunos participaram de diferentes atividades que visaram promover a empregabilidade e empoderamento

A primeira edição do “Projeto Cozinha e Voz – Empregabilidade Trans” se encerrou ontem (22) com uma cerimônia de formatura realizada na sede do Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO). O total de 33 homens e mulheres travestis e transexuais participaram do curso de assistente de cozinha, que ocorreu na Faculdade Cambury nas duas primeiras semanas de novembro. Além disso. durante cinco semanas nos meses de outubro e novembro, os alunos participaram de palestras, workshops, rodas de conversa e oficina de poesia que visaram promover a empregabilidade e empoderamento. A iniciativa é fruto de parceria entre o MPT e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Durante a solenidade de formatura, que contou com a participação do procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury, os alunos realizaram um recital de poesias – fruto da oficina ministrada pela atriz e poetisa Elisa Lucinda e pela também poeta, Giovana Gomes. Em seu discurso na abertura do evento, o procurador-chefe do MPT-GO, Tiago Ranieri, ressaltou a importância do projeto e reafirmou seu compromisso em atuar na defesa dos direitos da comunidade trans. A empregabilidade dessa parcela da população é uma das prioridades do órgão, que promove esforços por meio da Coordenadoria de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Combate à Discriminação no Trabalho (Coordigualdade).

Em ressonância com as palavras de Ranieri, o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury, lembrou da primeira edição do Projeto Cozinha e Voz, a qual se deu na Regional de São Paulo, e se mostrou satisfeito pela continuidade da iniciativa em âmbito nacional. Segundo ele, o projeto já tem apresentado resultados concretos e tem grande relevância social e, por isso, continuará a ser realizado. “Nunca deixem que ninguém lhes diga que vocês não são capazes ou são inferiores em qualquer aspecto que seja. Vocês merecem as mesmas oportunidades e direitos que todos”, incentivou Fleury ao final de seu discurso.

Após os discursos das autoridades e do recital de poesia, foi exibida uma homenagem em forma de vídeo produzida pelos alunos John Maia e Lukas Scawoker. “É a forma que encontramos de dizer o nosso muito obrigado. A oportunidade que vocês nos ofereceram foi incrível e seremos eternamente gratos”, afirmaram. Emocionada, a mãe da formanda Alyce Alcântara pediu a palavra e fez um discurso em que, ao lembrar de todas as dificuldades que sua filha já passou, agradeceu ao MPT e a todos os envolvidos pela iniciativa.

Por fim, antes da entrega dos diplomas, a formanda Bárbara Arcanjo, que já está contratada e irá iniciar seu novo emprego na próxima semana, lembrou das inúmeras formas de opressão que a população trans sofre diariamente desde a mais tenra idade. “O projeto é uma iniciativa incrível, mas ela não deveria nem precisar existir. Nós temos que lutar pelo fim da discriminação”, afirmou Arcanjo.

Em Goiás, o projeto teve apoio da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Associação de Travestis Transexuais e Transgêneros de Goiás (Astral-GO), Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Goiás (Abrasel-GO) irá atuar como facilitadora na abertura de vagas formais no mercado de trabalho, cinco oportunidades já foram oferecidas e novos contatos estão sendo feitos para que todos alunos possam ser efetivamente contratados.

Assistente de cozinha

O curso de assistente de cozinha ocorreu na Faculdade Cambury e foi ministrado pelo professor Márcio Zago, pela nutricionista Neide Rigo e por Fernanda Cunha, membra da equipe da chef de cozinha e jurada do programa MasterChef Brasil, Paola Carosella – apoiadora do Projeto e responsável pela elaboração da grade curricular. 

O professor da Cambury acredita que a empregabilidade poderá de fato ser alcançada porque, segundo ele, a gastronomia está em um momento de alta. Zago destaca, ainda, que o ambiente da cozinha é propício para promover transformações positivas. “As pessoas precisam aprender que a cozinha não é apenas um espaço onde se prepara comida, é um espaço onde também é possível agregar e aprender valores. E, nesse sentido, nossa experiência foi riquíssima”.

A nutricionista Neide Rigo conta que foi convidada pela chef Paola Carosella para participar do projeto e que aceitou assim que soube do que se tratava. “É muito legal ver o interesse das pessoas pela cozinha, às vezes, elas só não partiram para o ramo por falta de oportunidades, então, se pudermos oferecer isso que falta já podemos considerar uma vitória”. É também o que defende Fernanda Cunha, que já participou de seis edições do Projeto Cozinha e Voz. “O alimento é uma forma de desenvolver não só o trabalho, mas também o afeto. Ao capacitar damos a oportunidade, inclusive, de que eles se tornem empreendedores”, concluiu.

O projeto nasceu no MPT em São Paulo, onde já foram realizadas duas edições. Na capital paulista, o “Cozinha e Voz” foi capaz de incluir 70% dos alunos no mercado de trabalho. Outras regionais do MPT estão promovendo projetos similares desde então.

Registros

A fotógrafa contratada pela OIT, Jake Vieira, acompanhou as duas turmas do Projeto Cozinha e Voz durante todo o curso para registrar os momentos de convivência e aprendizado. O resultado desse trabalho foi apresentado em forma de uma exposição fotográfica, que está aberta à visitação do público, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, até o dia 19 de dezembro na sede do MPT-GO.

 

----

Ministério Público do Trabalho em Goiás

Assessoria de comunicação
Fone: (62) 3507-2713 
Facebook | Instagram

Imprimir